Na Escola Pitiguari, compreendemos a alfabetização não como um ponto de chegada, mas como um processo que acompanha toda a vida humana. Inspirados por Emília Ferreiro e Ana Teberosky, que nos ajudam a compreender a escrita como construção ativa das crianças, e pela abordagem de Reggio Emilia, que reconhece a criança como sujeito de múltiplas linguagens, afirmamos que a alfabetização se inicia antes mesmo do nascimento.

Quando um bebê ainda está no ventre e já recebe palavras, músicas, histórias e afeto, começa a ser introduzido na experiência da comunicação, parte essencial do processo de alfabetizar-se. Esse percurso continua no berçário, quando a criança é chamada pelo nome, quando dizemos “vamos trocar a fralda” ou “está na hora do almoço”. Cada diálogo, cada canção de ninar, cada brincadeira são sementes desse processo.

Na infância, a escola se torna espaço coletivo que potencializa essa vivência: nas rodas de história, nos livros ao alcance das crianças, nas narrativas partilhadas. Aos poucos, a alfabetização se revela também em sua função social: reconhecer o próprio nome, o dos colegas e familiares, participar dos registros de receitas no livro de culinária, identificar palavras que circulam em seu cotidiano.

O desenho e o grafismo têm lugar central nesse caminho. Antes de escrever letras, a criança escreve o mundo com traços, marcas e imagens. É no desenho que nasce o desejo de contar histórias, de registrar experiências, de inscrever-se no tempo e no espaço.

E quando esse desejo por escrever e registrar aparece, oferecemos diferentes ferramentas e propostas:

  • Caderno do Dicionário, criado pelas próprias crianças, onde registram palavras que surgem em suas conversas e descobertas cotidianas.
  • Diário da criança, em que escrevem palavras ligadas às investigações que vivem na escola.
  • Mensageria, troca de recados entre crianças, professores e famílias, fortalecendo a função social da escrita.
  • Jogos e brincadeiras, como bingo de letras e palavras, caça-palavras, jogo da forca, retratos e autorretratos, sempre nomeando e dando sentido ao escrito.

Nesses percursos, o professor atua como parceiro: apoia cada criança mostrando que hoje ela escreve do seu jeito, mas apresentando também a forma convencional da palavra, convidando-a a avançar no processo.

Entendemos, com Paulo Freire, que alfabetizar é mais do que decodificar sinais: é um ato de leitura de mundo, de diálogo, de construção de sentido. Por isso, não partimos de letras soltas para depois chegar às palavras. Ao contrário, falamos palavras inteiras, com significado, para depois refletirmos sobre as letras que as compõem.

Na Pitiguari, acreditamos que a alfabetização precisa ser significativa, nascer do desejo, do sentido e da vida das crianças. É um processo que começa no corpo, na voz e no gesto, e que se amplia na escrita como comunicação, registro e pertencimento. Assim, cada criança se reconhece como autora da sua história e construtora do seu próprio caminho de linguagem.

Emanuela Pessoa

Diretora Pedagógica

Escola Pitiguari – Berçário e Educação Infantil