Mordida como forma de sentir e se comunicar com o mundo
Primeiramente, gostaríamos de agradecer o retorno de vocês em relação ao nosso comunicado anterior. Assim, continuaremos a trazer mais temas que nos auxiliem a refletir sobre como as crianças interagem com o mundo e se desenvolvem.
Nosso tema será a mordida ou a ação de morder e a boca como instrumento de perceber, sentir e se comunicar de uma forma não verbal com o mundo.
Vamos pensar que a boca é a parte do nosso corpo que nos possibilita ter o primeiro contato de satisfação e prazer, pois ao sugar o peito e obter o leite materno, a criança consegue saciar sua fome e sede e, é claro, a partir disto, construir sua relação com o mundo.
A criança sim, percebe as coisas através do tato, olfato, e dos outros sentidos, mas a boca oferece para ela contato e conexão com o mundo externo, ganhando sentido para sua ação futura e, consequentemente de integração.
Vamos fazer um exercício sobre essa questão de construir sentido com a boca para a ação do bebê. Se o bebê chorasse sem utilizar o “grito”, utilizando somente as lágrimas como forma de comunicar sua fome, provavelmente demoraria mais para ele conseguir o leite. Então, “gritar” fará mais sentido para conseguir o que deseja. Percebam que já há até aqui elementos concretos de que a boca é sua ferramenta principal, para satisfazer, saciar a fome e sede e, de chamar a atenção daqueles que estão a sua volta.
Continuando o processo da relação da criança através da boca, ela posteriormente ao conseguir manusear objetos, passa a colocá-los na boca, como forma de reconhecê-los e de perceber se lhe oferecerão prazer e satisfação. E nós adultos reforçamos esse comportamento de utilizar a boca, pois oferecemos chupeta, mordedor e outros objetos que possibilitem que a criança se tranquilize. É necessário fazer uma consideração aqui: não estamos criticando a utilização dos objetos citados e, que sim, podem auxiliar no processo do cuidar. Estamos refletindo sobre o quanto esses objetos estimulam a utilização da boca como meio de contato com o mundo e os sentidos construídos por estes. Também é preciso considerar cada criança, pois umas utilizam mais ou menos a boca como recurso e, que independem da utilização ou não desses objetos. Com isso, é importante ressaltar o trabalho da escola ao proporcionar para crianças, principalmente no grupo 2, atividades que proporcionem para elas um contato e conexão com o mundo através das outras partes do corpo, utilizando materiais com diferentes texturas, aromas, formas, cores etc., em que mesmo levando até boca, esses objetos aguçam os outros sentidos.
Até aqui, podemos entender como as crianças vão se relacionando com o mundo através da boca e, como consequência, o morder se torna um meio de sentir e se comunicar com o outro. E para ser mais breve e objetivo, devemos mais uma vez desmistificar a ideia de intencionalidade do ato de morder, em que a criança o faz por ter raiva do outro ou para se sobrepor ao outro, enfim ideias que nós adultos adquirimos por ter a condição de abstração, ou seja, temos a capacidade de atribuir para uma mesma ação diferentes características. Pois bem, as crianças ainda não conseguem atribuir essas características, o que acontece é que através da mordida elas podem estar querendo demonstrar sua insatisfação por não poder ficar com a mamãe e o papai, por não ter a atenção desejada, seja do adulto ou de outra criança ou por buscar saciar suas necessidades, desejos e vontades. Sendo de extrema importância a busca por compreender o que a criança está querendo dizer (comunicação não verbal) ao utilizar a mordida.
Mais uma vez, colocamos em evidência o trabalho executado na escola, pois vamos dialogando com a criança com o intuito de fazer com que ela possa ir construindo esse comportamento verbal e, para que este seja utilizado em diferentes ocasiões e lugares, como por exemplo, pedir para tomar água, para ir ao banheiro, descansar e, até indicar para o outro que não gostou da ação dele.
É importante o trabalho em conjunto entre família e escola para a construção desse repertório verbal e para que nossas crianças obtenham um melhor desempenho na relação com o outro e com o mundo.
Aproveitamos para perguntar: qual assunto vocês gostaríamos que tratássemos aqui?